Material de estudos | Produzindo e experimentando recursos educacionais

2 | Princípios de Design Instrucional

Linguagem dialógica

Quando tratamos de materiais didáticos, além de considerar o conteúdo e a mídia, é preciso uma atenção especial à forma como nos comunicamos.

Você já leu algum livro ou assistiu a algum vídeo e teve a sensação de que o autor estava sentado ao seu lado, conversando com você? Esse tom de conversa, próximo da linguagem falada e recheado de perguntas que suscitam a reflexão é o que podemos entender como linguagem dialógica.

O professor que ensina, dentro de uma perspectiva inovadora, precisa estar em estado de aprendência.

BOHN, 2006

 

Na EaD, a gente diz que a educação é a distância, mas não precisa ser distante. A distância aqui é principalmente temporal. O autor de um material didático o produz em um tempo diferente do tempo em que ele será acessado. Veja o nosso caso: Sabrina e eu, Luís, estamos produzindo este material em conjunto. Este trecho, em especial, está sendo escrito por mim, Luís, em um voo de Belo Horizonte para Guarulhos (até agora, turbulências apenas no campo das ideias). Ao produzir o material, ficamos o tempo todo com você em mente e buscamos nos remeter à você. Essa é uma das formas de nos aproximarmos.

Outro ponto relevante da linguagem dialógica é que um diálogo não é um monólogo. Parece óbvio, mas como fazer para ouvir o outro sendo que o autor está em um tempo diferente do leitor? É por isso que além da linguagem próxima, o autor deve promover a reflexão, como se esperasse uma resposta do leitor. (Em alguns casos, é possível prever formas para que o leitor se manifeste. Neste curso, nós criamos tópicos de discussão ao longo do texto que levam a um fórum, por exemplo.)

Não é à toa que a linguagem dialógica é um elemento indicador para qualidade do material didático. Para Freire (2011, p. 47), ensinar “não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. Isto significa que além de apresentar o conteúdo de forma agradável, interessante e motivadora, o autor precisa instigar a reflexão-ação.

Destaques da linguagem dialógica


Tom de conversa - procure escrever/falar como se estivesse conversando com o leitor/espectador. Use pronomes de tratamento, como “você”, e/ou terceira pessoa “nós”. Por exemplo: “Até aqui, vimos que a linguagem é essencial na elaboração de um material didático. No tópico a seguir, você conhecerá uma técnica de narrativas conhecida como storytelling.”


Orientação da leitura/navegação - receba o leitor com boas-vindas e direcione as ações. Por exemplo: “Veja, no vídeo que segue, a diferença entre linguagem acadêmica e linguagem dialógica.” / “Clique no link a seguir e saiba mais.” / “Participe da discussão! Acesse o fórum e compartilhe suas ideias.”


Reflexão - faça perguntas/desafios em momentos oportunos para que o leitor resgate conhecimentos prévios, relacione o que está vendo com situações reais, questione conceitos, etc. Por exemplo: “Por que será que alguns conteúdos são tão agradáveis, instigantes e de fácil assimilação?"


Exemplos/casos - traga exemplos, comparações, casos que ilustrem e problematizem os conceitos apresentados. Cada leitor terá uma bagagem de experiências e conhecimentos diferentes. Por isso, proponha situações que permitam exercitar, refletir e construir o conhecimento na prática.

 

Cuidados com a linguagem dialógica


Informalidade excessiva - a informalidade e o humor são recursos adequados para promover a proximidade com o leitor, mas é preciso atentar para que eles não prejudiquem a compreensão ou afetem a percepção de relevância de determinado conteúdo.


Nível dos leitores - é preciso estabelecer uma linguagem adequada ao público do material sendo produzido. Um material para especialização, por exemplo, será diferente de um material para crianças. A propósito, no intuito de se aproximar com o leitor adulto, é preciso cuidar para que a linguagem não fique infantil, inclusive a linguagem visual.


Pressuposições - iniciar imaginando que o leitor já sabe algo, por exemplo, “como você já deve saber, o cuidado com a linguagem é crucial para qualidade de um material didático.” Para resolver essa situação, basta suprimir o primeiro trecho. Em contrapartida, você pode certamente resgatar conteúdos já apresentados anteriormente em um mesmo material/curso.


Uso excessivo da primeira pessoa do plural ou da terceira pessoa (formal) - em alguns momentos, é oportuno utilizar a primeira pessoa do plural (nós) no intuito de promover a sensação de proximidade entre autor e leitor. Por exemplo, ao dizer “Até aqui vimos os diferentes tipos de linguagens”. Porém, também é importante lembrar que o leitor é um aprendente ativo no processo e precisa sentir isso por meio de tratamento pessoal. Por exemplo, “No tópico a seguir, você verá alguns princípios de design gráfico.” Veja que é diferente de dizer “No tópico a seguir, veremos alguns princípios do design gráfico.” Normalmente, se pondera em quais momentos se espera uma ação do leitor e, assim, utiliza-se uma fala direta ("você"), e, em quais momentos espera-se promover a sensação de que leitor e autor farão algo juntos (usando o "nós"). Além disso, há também o uso de terceira pessoa e da impessoalidade, que é comum em artigos acadêmicos nos quais buscamos passar credibilidade científica. Por exemplo, se disséssemos "No tópico a seguir, serão apresentados alguns princípios do de design gráfico." Note como fica distante.
Ah! Uma dica: por mais que você esteja produzindo um material para diversas pessoas, na maior parte dos casos, soa mais próximo dizer “você” em vez de “vocês”. ;)

Você precisa saber

Considerando o que você já estudou até aqui sobre Design Instrucional e Linguagem dialógica, indicamos a leitura do artigo Produção de conteúdos para EaD: planejamento, execução e avaliação, disponível na sequência. Os autores fazem uma retomada de alguns conceitos, em especial acerca da linguagem dialógica instrucional.

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